Enviado por Lucca Moreira | 28 de Janeiro de 2025
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Tempo de Leitura: 7 minutos
O significado de buscar a sua doutrina;
Uma reflexão do livro Sidarta por Herman Hesse, ganhador do prêmio nobel de literatura;
Como essa reflexão se traduz na prática e como ela se liga com a filosofia de Kierkgaard.
Duas semanas atrás pedi a um amigo que me indicasse o melhor livro que ele já leu na vida. Ele então me disse: “Vou pensar, amanhã eu te retorno.”
Depois de um dia, ele chegou com um livro na minha mesa: Sidarta, de Herman Hesse. O livro é ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, e eu nunca tinha ouvido falar dele. Já fiquei animado para ler.
Matei o livro em três dias.
Para quem não conhece, Sidarta conta a história de um “Buda” e sua trajetória para se tornar o Buda, contendo talvez um dos melhores diálogos que já tive o prazer de ler. Sinceramente, sinto que preciso ler o livro mais umas cinco vezes para conseguir captar tudo o que ele transmite.
Dentre as diversas reflexões, na primeira leitura, uma sobressaiu: a importância de seguirmos o nosso caminho e criarmos a nossa doutrina.
Estou aqui, duas vezes por semana, escrevendo para vocês partes da minha mente e das minhas convicções, bem como convicções de outros. Então, vou aproveitar essa mensagem para fazer um pequeno “disclaimer”.
Todos nós, para verdadeiramente atingirmos a profundidade dos pensamentos, da filosofia e da espiritualidade, precisamos escutar, mas, acima de tudo, filtrar o que funciona para nós.
No livro, Sidarta e seu amigo Govinda, após se afastarem da doutrina dos Samanas, ouvem sobre Gotama, o Buda, e seus incríveis ensinamentos.
Caminham dias, em jejum, até chegarem ao acampamento de Gotama, o Augusto. Tudo isso para ouvir Gotama falar por um breve momento.
Eventualmente chega a hora em que a roda se forma e Gotama começa a discursar. Suas palavras são lindas; sua aura e alma são as mais puras que Sidarta já viu. Ele é o ser perfeito, como diziam, em todas as suas formas.
Após Gotama finalizar, ele se aproxima para conversar com a dupla de amigos. Govinda, completamente encantado, toma a decisão ali, naquele momento, de seguir a doutrina de Gotama.
Junto com outros novos discípulos, Govinda declara: “Também eu procuro agasalho na proximidade do Augusto e da sua doutrina.”
Porém, Sidarta não. Por mais encantado que tenha ficado, deixa muito claro para Govinda que não vai segui-lo nessa empreitada e, virando-se para Gotama, diz:
“Ontem, ó Majestoso, coube-me em sorte ouvir a tua maravilhosa doutrina. Junto com meu amigo, vim de longe, a fim de conhecê-la. E agora meu amigo aderiu aos teus discípulos, abrigando-se na tua proximidade. Eu, porém, hei de reiniciar a minha peregrinação.”
Antes de se distanciar do grupo e de Gotama, Sidarta pede para explicar o motivo de estar renunciando à sua doutrina. Gotama, calmo, concede-lhe a palavra.
Sidarta então continua:
“Não me dirigi a ti para discutir contigo, para provocar uma disputa em torno de palavras. Deveras tens razão: pouco valor têm as opiniões. Mas, com tua licença, direi mais uma coisa: não duvidei de ti nenhum instante. Não duvidei em absoluto de que és o Buda, de que alcançaste o objetivo supremo a cuja busca se encaminharam tantos milhares de brâmanes e filhos de brâmanes. Obtiveste a redenção da morte!
Ela te coube em virtude do teu próprio empenho, pelo método que é teu, pelo pensamento, pela meditação, pelo conhecimento, pela iluminação. Não a conseguiste através da doutrina! E… eis o meu raciocínio, ó Augusto… ninguém chega à redenção mediante a doutrina!
A pessoa alguma, ó Venerável, poderás comunicar e revelar por meio de palavras ou ensinamentos o que se deu contigo na hora da tua iluminação! Ela contém muita coisa, a doutrina do esclarecido Buda.
A numerosas pessoas indica o caminho para uma vida honesta, afastada do Mal. Mas há uma única coisa que não se acha nessa doutrina, por mais clara e veneranda que ela seja. Não nos é dado saber o segredo daquela experiência que teve o próprio Augusto, só ele entre centenas de milhares de homens. São esses os pensamentos e as percepções que me vieram, quando ouvi a doutrina.
Por isso, hei de prosseguir na minha peregrinação, não para ir à procura de outra doutrina melhor, já que sei muito bem que não há nenhuma, senão para separar-me de quaisquer doutrinas e mestres, a fim de que possa alcançar sozinho o meu destino ou então morrer. Contudo me lembrarei frequentemente deste dia, ó Sublime, e desta hora, na qual um santo se deparou aos meus olhos.”
Essa passagem perpetua nos meus pensamentos, principalmente levando em conta o que eu faço.
De uma forma ou de outra, estou aqui compartilhando conhecimentos que internalizei, que fizeram sentido para mim e que partiram de diversas doutrinas.
Apesar disso – e é por isso que escrevi este texto hoje – no fundo, tudo isso pode funcionar, mas o caminho de cada um é único. Minha missão é apenas provocar a sua ação e o seu encontro com a sua doutrina e verdade.
Felizmente, a vida é profunda o suficiente para permitir isso. Desde criança venho caminhando entre doutrinas e internalizando o que me faz bem. Mas, como Sidarta diz a Gotama, por mais linda que a sua doutrina seja, ela falha em explicar o ponto mais profundo…
Um ponto inexplicável, porque, para alcançá-lo, é preciso viver.
Estou nessa busca, assim como você. Estou muito longe de ser o Gotama. O máximo que posso dizer é que espero trazer mensagens que instiguem você a entrar nessa busca cada vez mais profunda. E somente você conseguirá a sua resposta.
Com isso não quero assustar ninguém ou insultar, levando em conta a diversidade de doutrinas que todos nós seguimos no dia a dia. A intenção está longe disso. Quero deixar claro que é um caminho criado por ação e por nosso próprio sacrifício e vontade.
Incluindo outro grande pensador, Kierkegaard, diz algo que, desde meus 16 anos, levo como verdade:
“A interpretação das palavras de Deus deve ser feita a partir dos sentimentos que elas despertam.”
Para Kierkegaard, a única forma de se conectar com o espiritual é sozinho, é você com você mesmo. E para isso, devemos seguir o meio que faz sentido e acende nossa espiritualidade, independentemente de qual for.
Enquanto guerras são travadas por causa do “meio”, enquanto a intolerância é colocada no lugar do amor por causa do “meio”, não se prenda nessa roda…
A verdadeira iluminação independe do “meio”, e ela precisa ser sincera no seu coração.
Com isso, espero que você não concorde com muito do que eu escrevo, que você reflita e refute muito do que estou passando aqui…
Mas que você esteja sempre disposto a escutar de ouvidos e coração abertos e disposto a agir sobre aquilo que te tocou. Porque, para encontrar a nossa doutrina, o nosso caminho, a ação se faz necessária.
Sei que hoje escrevi de forma mais filosófica e saí um pouco do padrão, que é passar algo prático ou uma reflexão com conclusão impactante. Mas, após a leitura deste livro, senti que deveria trabalhar este tema.
Tenha uma ótima semana. Um grande abraço.
Até a próxima,
Arthur Mota e Lucca Moreira,
Co-Founder Insight Espresso
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