#053 - Os perigos da imaginação

Enviador por Lucca Moreira | 15 de Outubro de 2024

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Os perigos da imaginação

Tempo de Leitura: 09 minutos

O que vamos explorar hoje?

  • Um texto de Daniel Gilbert sobre a jornada da vida;

  • O impacto que a imaginação têm sobre nossa felicidade;

  • Como evitar os perigos da imaginação e focar no que importa.

No começo da Insight, escrevi sobre um livro incrível de Daniel Gilbert, Stumbling on Happiness. Como o livro tem ensinamentos para uma vida toda, estarei fazendo uma segunda edição hoje. A parte 2.

Para iniciar, transcrevo uma passagem do livro que é perfeita para entrarmos no grande problema de: “se eu estivesse no lugar dele”.

Isso nós sabemos com certeza…

Adolph Fischer não organizou o tumulto. Ele não incitou o tumulto. Na verdade, ele nem estava perto do tumulto na noite em que os policiais foram mortos.

Mas o sindicato dele havia desafiado o controle sufocante que os poderosos industriais de Chicago exerciam sobre os homens, mulheres e crianças que trabalhavam em suas fábricas no final do século XIX, e esse sindicato precisava ser ensinado uma lição.

Assim, Adolph Fischer foi julgado e, com base em testemunhos pagos e perjurados, foi condenado à morte por um crime que não cometeu. Em 11 de novembro de 1887, ele ficou de pé no cadafalso e surpreendeu a todos com suas últimas palavras: “Este é o momento mais feliz da minha vida”.

Poucos segundos depois, a porta sob seus pés abriu, a corda quebrou seu pescoço, e ele estava morto. Felizmente, seus sonhos de equidade no local de trabalho americano não foram exterminados tão facilmente.

Um ano após a execução de Fischer, um jovem brilhante aperfeiçoou o processo de fotografia a seco, lançou sua revolucionária câmera Kodak e instantaneamente se tornou um dos homens mais ricos do mundo.

Nas décadas que se seguiram, George Eastman desenvolveu uma filosofia de gestão revolucionária, oferecendo aos seus funcionários jornadas mais curtas, benefícios por invalidez, anuidades de aposentadoria, seguro de vida, participação nos lucros e, por fim, um terço das ações de sua empresa.

Em 14 de março de 1932, o amado inventor e humanitário sentou-se em sua mesa, escreveu uma breve nota, tampou sua caneta-tinteiro e fumou um cigarro. Em seguida, surpreendeu a todos ao tirar a própria vida.

Fischer e Eastman são um contraste fascinante. Ambos acreditavam que os trabalhadores comuns têm direito a salários justos e a condições de trabalho dignas, e ambos dedicaram grande parte de suas vidas à promoção de mudanças sociais no alvorecer da era industrial.

Fischer fracassou e morreu um criminoso, pobre e desprezado. Eastman teve sucesso absoluto e morreu como um herói, rico e venerado.

Então, por que um homem pobre que realizou tão pouco estava feliz à beira de seu próprio enforcamento, enquanto um homem rico que realizou tanto se sentiu impelido a tirar a própria vida?

As reações de Fischer e Eastman às suas respectivas situações parecem tão contrárias, tão completamente invertidas, que somos tentados a atribuí-las a bravatas ou a distúrbios mentais.

Fischer aparentemente estava feliz no último dia de uma existência miserável, enquanto Eastman aparentemente estava infeliz no último dia de uma vida plena, e sabemos muito bem que, se estivéssemos no lugar de qualquer um deles, experimentaríamos exatamente o oposto de suas emoções.

Não é a realidade

Como assim, certo? E só para deixar claro: a história é totalmente real. A partir desse pequeno trecho de um livro de pérolas, tive a realização de que nós, seres humanos, temos uma grande dificuldade quando se trata de entender a realidade.

É irreal, impensável, é absurdo acreditar que alguém que alcançou até os seus maiores sonhos, mudou o mundo para melhor e conquistou tudo acabou se matando, enquanto outra pessoa, que não tinha nada e “fracassou” em sua missão, morreu feliz.

Nós, no lugar do CEO da Kodak, seríamos felizes, certo? Aproveitaríamos todos os frutos do nosso trabalho, não é mesmo?

Gostamos de acreditar que sim, e, quando vamos responder a essa pergunta, nossa imaginação vaga nos mais lindos cenários de como seria nossa vida naquele contexto…

Uma mansão, piscina, sol e um churrasco acontecendo. Sua família ao redor, as crianças brincando, música tocando ao fundo. A tranquilidade de não precisar pensar em dinheiro ou em preocupações que temos hoje… A vida está linda e perfeita.

Só que isso tem um problema: não é a realidade. Tudo o que descrevi poderia ser verdade para Eastman e para nós, e, independente disso, poderíamos estar tristes, sem energia e muito piores do que estamos agora.

Com essa ideia, quero tentar te mostrar que nossa mente, se não estivermos atentos, vai usar o que poderia ter sido, as escolhas não tomadas, para racionalizar o motivo da nossa infelicidade e insatisfação no agora.

A grama do vizinho

A dissonância entre imaginação e realidade pode gerar também um outro efeito negativo em nossas vidas: a comparação com os outros de forma negativa.

Em grande parte, a frase “a grama do vizinho é sempre mais verde” vem dessa ilusão da imaginação.

Na época em que estamos ralando muito, sofrendo, quando tudo está dando errado, olhamos para aquele amigo que está aproveitando ao máximo a vida, curtindo, festejando, e pensamos: “O que eu não daria para estar no lugar dele? Estaria tão feliz.”

Ou então, lembramos de um período da nossa própria vida, em que estávamos tranquilos, sem grandes preocupações, e pensamos: “Como eu estaria feliz se estivesse assim agora.” Sendo que, nessa época, esquecemos que estávamos desmotivados, tristes e insatisfeitos.

Ao mesmo tempo, esse amigo olha para você na missão, empenhado, se dedicando em prol de um objetivo maior, do seu sucesso, e imagina como estaria no seu lugar. Ele também pensa: “O que eu não faria para estar nesse lugar? Com um propósito claro, perseguindo meu sonho. Eu estaria tão feliz”.

Enquanto não ficar claro para nós mesmos que tanto a felicidade quanto a tristeza podem ser encontradas em todo e qualquer contexto, jamais seremos felizes de verdade. Enquanto deixarmos a imaginação ofuscar a verdade do presente, jamais seremos felizes…

A vida do outro irá sempre parecer mais linda, nosso passado sempre será mais incrível, as decisões não tomadas eram as decisões certas para maior sucesso e realização… Mas lembre-se: nada disso é a realidade.

O foco que importa de verdade

Não existe uma fórmula para a vida, uma vida certa, uma vida ótima per se, existe o que fazemos e como encaramos a nossa própria.

Quanto mais nos conectamos com a vida que estamos vivendo – por mais sofrida e problemática que ela possa parecer agora – mais felizes seremos.

E para concluir esse tema, deixar-se ser controlado pela imaginação carrega mais um efeito negativo: nos torna imediatistas.

Como a vida do outro é mais linda e como nosso passado foi melhor, sentimos a necessidade de ter TUDO e AGORA.

Abrindo o jogo, estou animado para namorar de novo, mas reconheço a felicidade na vida que estou vivendo agora, mesmo sem namorar. Por esse motivo, jamais tomarei a decisão de namorar se não for por amor e por acreditar que encontrei a pessoa para a minha vida.

Para enxergar sua vida com um olhar presente, concentre-se nas pequenas coisas. Permita-se ser feliz com qualquer coisinha – seja uma música inesperada que tocou no carro ou o fato de que hoje você conseguiu fazer algo que não havia conseguido ontem.

Encare os problemas que você está vivendo como percalços para crescer, términos como aprendizados para toda a vida, perdas como novas chances de ganhar.

“Eu, e não os acontecimentos, tenho o poder de me fazer feliz ou infeliz hoje. Posso escolher qual será. O ontem está morto, o amanhã ainda não chegou. Tenho apenas um dia, hoje, e vou ser feliz nele.”

– Groucho Marx

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