#041 O Véu de Maya

Enviador por Lucca Moreira | 02 de Setembro de 2024

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O Véu de Maya

Tempo de Leitura: 6 minutos

O que vamos explorar hoje?

  • Conceito do Véu de Maya e a Ilusão que vivemos;

  • Diferentes meios para se atingir o mesmo fim: desprender dessa ilusão;

  • O ponto mais positivo de ser tolerante e ampliar a visão sobre religiões.

A deusa da Ilusão

“O véu de Maya, tecido de tempo e espaço, é espesso, mas pode ser perfurado por aquele que sabe que tudo é meramente um fenômeno da vontade.”

– Arthur Schopenhauer

Descobri o conceito do “véu de Maya” aos 15 anos de idade, em uma aula de filosofia, e ele nunca saiu da minha cabeça.

É um conceito hindu, porém, eu cheguei nele pela interpretação de Arthur Schopenhauer. Hoje, vou tentar explicar o conceito e trazer meu entendimento dele.

Para começar, precisamos falar sobre Maya. No sânscrito, Maya significa “aquilo que não é” ou, em outras palavras, “ilusão.”

Em algumas correntes da teologia hindu, Maya é personificada como uma deusa, esposa de Brahmā, o deus criador do universo.

Brahmā, ao decidir criar o mundo, precisava de um poder capaz de manifestar a matéria e a forma do universo, e esse poder era Māyā. Ela é a energia criativa (Shakti) que permite que Brahmā transforme o potencial em realidade, o invisível no visível.

A deusa Māyā, usando seu poder, tece o tecido do universo, criando o tempo, o espaço e todas as formas de vida. Ela dá forma à matéria inerte e traz à existência o mundo que conhecemos.

No entanto, como personificação da ilusão, ela também encobre a verdadeira natureza de Brahman (a realidade última) com o véu da dualidade e da multiplicidade.

Isso faz com que os seres criados por Brahmā percebam o mundo como separado e distinto do divino, mantendo-os presos na roda do mundo físico.

Diferentes meios para o mesmo fim…

Na minha interpretação, Maya dividiu nossa realidade para conseguirmos existir nela, e, em parte, para que busquemos ir além, alcançando a essência e o espiritual.

Ela é, sim, responsável pelo véu que recai sobre todos nós, escondendo a verdadeira essência e unicidade do mundo, mas, ao mesmo tempo, oferece oportunidades de superar essa ilusão.

No fundo, filósofos têm buscado isso por milhares de anos: ultrapassar a ilusão.

Platão, por exemplo, no seu mito da caverna, usou outras palavras para passar a mesma mensagem. Tudo o que estamos vivendo são, na verdade, sombras da realidade, e a única forma de enxergarmos a verdade é saindo da caverna.

Immanuel Kant, quando expõem o conceito de fenômeno e noúmeno, oferecia uma interpretação mais negativa do conceito do véu, afirmando que vivemos no mundo dos fenômenos, enquanto a verdadeira natureza das coisas (o noúmeno) é inacessível para nós.

No Novo Testamento, é o conceito de “mundo” frequentemente usado para descrever o sistema de valores e desejos terrenos que desviam os seres humanos da verdade divina.

“Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.”

– 1 João 2:15

E eu poderia citar mais centenas de exemplos em TODAS as religiões e filosofias…

São formas diferentes de chegar ao mesmo ponto, igualmente importantes para conseguirmos nos desprender da ilusão.

Uma forma para se desprender da ilusão

“A avaliação de uma decisão não deve ser feita conforme o seu resultado. No entanto, é assim que as pessoas a avaliam. Uma boa decisão é aquela que é a mais adequada no momento em que é tomada, quando o futuro é, por definição, desconhecido. Assim, decisões corretas são frequentemente mal-sucedidas, e vice-versa.”

– Howard Marks

O ponto final de tudo isso, sobre o qual quero que você saia daqui refletindo, é simples: toda filosofia e religião está tentando chegar ao mesmo lugar; só as histórias e interpretações que são diferentes.

E se todas possuem o mesmo objetivo, cabe realmente a nós tentarmos provar que o nosso meio é o certo?

Ou melhor, que existe apenas uma forma de se desprender dessa ilusão?

Estou cada vez mais convicto de que não, o que me leva também a ter um maior apreço por todas as religiões, e não somente por uma.

A missa e a meditação estão buscando a mesma coisa. A quaresma e o ramadã também.

Ao invés de nos fecharmos na intolerância e limitarmos nossa visão para uma única fonte de conhecimento, estou te provocando a abrir sua visão e enxergar o todo, porque nisso você só tem a ganhar.

No hinduísmo, Maya é tanto a criadora do véu quanto o guia espiritual para te libertar dessa ilusão. Para o hinduísmo, a busca pela sabedoria e a prática de atividades espirituais são os princípios pelos quais Maya nos permite atingir a essência do universo.

Ou seja, dentro desses dois princípios, os meios pouco importam; no entanto, a busca é necessária. E enquanto o ser humano não entender a conectividade de tudo isso, vamos continuar nos matando pelo caminho “certo”.

Tolerância e sabedoria

Entenda o caminho que faz sentido para você, siga-o com máxima intenção e pare de achar que ele é o único caminho para atingir no plano espiritual.

A intolerância é a maneira mais fácil de nos afastarmos da sabedoria e portanto de nos libertar do Véu de Maya.

A ignorância caminha de mãos dadas com a intolerância porque para uma mente intolerante, a nova informação é sempre vista como perigosa.

Novas descobertas assustam somente aqueles que não estão dispostos a mudar, e essa é a pessoa que nunca vai largar o Véu de Maya e enxergar o todo.

“Todas as religiões devem ser toleradas, pois cada um de nós tem o direito de ir para o céu à sua maneira.”

– Friederich, O Grande.

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